terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Carta a uma educanda refletindo os ensinamentos de bell hooks - via instagram

 

Oi ***, tudo bem? 

Você se refere ao texto Vivendo de Amor de bell hooks ? (minúsculas mesmo, porque ela definiu assim). 

Nossa! que coincidência (não acredito nisso rs), nos últimos tempos tenho pensado muito nessa escrita dela. (... mais uma tentativa frustrada???)

Ela nos deixou uma lição. Deve ter sido muito difícil, dolorido ela teorizar isso. Mas é uma lição extremamente necessária. Porém, ainda mais difícil de ser praticada, vivida. Porque isso perpassa pela revisitação, convivência e superação (ou não) de decepções, dores e traumas. 

Eu usei uma lição que ela "nos deixou". Porque, apesar de ser sobre e para a Mulher Negra, aquela lição fala com todos nós, cada qual em seu lugar e especificidade. 

Uma amiga muito querida me indicou esse texto anos atrás. E, eu chorei a primeira vez que eu li. Eu chorei por empatia, mas também porque vi muita coisa da minha educação e de minha mãe ali. 

Fala da Mulher Preta, sim. Mas não fala também das filhas/filhos que ela educou? Aliás, vale ressaltar que esse lugar da Mulher criar e educar crianças sozinhas é um lugar de violência imposto pelo processo de colonização europeu. Pois, não era, e não é assim, para povos tradicionais indígenas da Pachamama Ameríndia nem de África. Onde o cuidar das crianças é responsabilidade coletiva daquela comunidade e/ou sociedade.

Esse texto fala das especificidades da Mulher Negra. Mas, não acaba atingindo também todes aqueles criados num contexto de exploração e violência colonial? Porque, quem segurou (e segura)  a maior carga esmagadora desse b.o? Nesse contexto, quem educou filhos, netos, sobrinhos, vizinhos, filhos de afetos e até desafetos???? 

É duro! Mas é Amor educar para sobrevivência num contexto colonial extremamente violento voltado a exterminar a diversidade. 
Como a Mulher Preta foi forçada a ser a mais dura, a mais forte, aguentar todas as dores, sem poder chorar, sem poder Amar (infelizmente ainda é assim)... 
...Isso se tornou cultural. É mais uma "herança" da violência racista colonial. Temos que ser duros. E enxergar amor como fragilidade, onde não se pode ser frágil (Quem é frágil sobrevive?) desde tempos coloniais. Isso, foi sendo passado de geração em geração entre povos em situação de opressão que eram obrigados (e ainda são) a educar seus filhos para sobreviver...

Então, Vivendo de Amor é uma lição deixada por uma Mulher Negra para Mulheres Negras, mas ainda sim, fala em algum grau, com todos nós... ou pelo menos deveria falar...

Por exemplo: Minha mãe não é Negra. Mas eu vi no relato de hooks de como a mãe dela a educou. Muito de como minha mãe me educou. E como minha avó educou minha mãe... E como minha bisavó, provavelmente, educou minha avó... e assim por diante... 
E o mesmo com vizinhos, parentes, etc... 

Quem nunca ouviu: "se arrumar briga na rua e voltar chorando apanha de novo?" Vc é obrigado a ser forte, e se não for o suficiente e apanhar: "engole o choro"... 

Essa educação dura para sobrevivência da Mulher Negra que hooks relata, se tornou cultural naqueles povos que foram atravessados pela violência brutal da colonização. E se tornou educação dos quilombos, periferias, favelas... E esses bloqueios para o amor, atinge todos nós. Mas, novamente observo: cada qual em seu grau e especificidade. Não devemos ser ingênuos ou estúpidos a ponto de acreditar que isso tem o mesmo peso e medida para todes numa sociedade estruturalmente e hierarquicamente preconceituosa, racista, machista, homofóbica... 

Apesar de lermos e compreendermos a necessidade de viver de, e para, o Amor, praticar isso ainda é extremamente difícil. Porque, perpassa pela revisitação, compreensão e conivências com traumas. Assim como bell hooks precisou fazer para teorizar. E isso, requer uma maturidade emocional que até individualmente é difícil alcançar. Imagine coletivamente... Ainda mais quando, coisas obscenas como o racismo ainda existem produzindo  novos (antigos) traumas continuamente... Então, isso tudo, ainda continua passando de geração em geração... 

Talvez por isso, que ela, assim como Freire, fala que precisamos educar no e para o Amor... 

Mas, infelizmente, não é tão simples pessoas traumatizadas fazerem isso em âmbito coletivo na prática... Ainda mais quando ainda se tem que educar para sobreviver a tais violências... 

Por exemplo: quando você consegue lhe dar com as dores, traumas, justas desconfianças, a ponto de se abrir para o Amor... Numa relação você interage com o outro, vc está interagindo em sociedade, com pessoas que talvez ainda não tenham alcançado essa luz (o que, pensando matematicamente, é muito provável). 
Aí vira um ciclo em que a pessoa se abre, se expõe, se decepciona, se machuca de novo e se fecha para processar e curar as feridas... 


Para averiguar que isso se tornou cultural, que Amar é associado a fragilidade, fraqueza (como se nunca pudéssemos ser frágeis ou fraquejar) basta tentar dialogar com qualquer um sobre Amor... Vamos ouvir barbaridades, principalmente de meninos/homens. Se negar a Amar se tornou parte duma masculinidade tóxica, Amar é "substantivo" feminino, e o homem nega seu lado feminino (sim temos) porque ser feminino é ser frágil e ser frágil é coisa de mulher (nunca vi mentira tão absurda e vil). Ou seja, Amar é uma fraqueza e homem não pode ser fraco... E isso, até nos leva a outro ponto abordado por hooks sobre o episódio da Mulher Negra não ser reconhecida como Mulher pelo feminismo eurocêntrico...

Na verdade isso também faz parte do mesmo problema...

Enfim... desculpe o textão...


Concluindo ... 
O que eu quis dizer é que: apesar de ler e compreender a lição deixada por hooks e conseguir lhe dar, em algum nível suportável, com dores, medos, traumas, inseguranças, a ponto de se permitir abrir para o Amor. Ainda assim, será muito difícil encontrar e se relacionar com uma pessoa nesse mesmo momento estágio emocional da vida e em sintonia com você. Estamos todos muito embarreirados para o Amor. Por tudo isso citado acima e por várias decepções afetivas ao longo da trajetória de cada indivíduo . 

Por isso, muitos de nós ainda vemos o Amor como problema, uma coisa a ser evitada e combatida. Porque se eu tenho um projeto de vida, de carreira, consumo, o "amor" só atrapalharia. Porque eu vou me decepcionar de novo, vou me desequilibrar emocionalmente e não vou conseguir fazer o que tenho que fazer pra conquistar o que quero (ou preciso). Ou seja, a gente já adianta sofre por ansiedade o que ainda nem aconteceu, e pode nunca acontecer, e já conclui que aquilo não vai dar certo, não vai ser bom, coloca a pessoa pra fora da vida, fecha a porta e segue o baile se iludindo que foi melhor assim. Foi melhor não viver aquele Amor... 😢 

E seguimos... sem Amor...


Quando Amor, Amor mesmo (e importante frisar, não existe um modelo único de Amar, pelo menos acredito nisso), só soma e constrói. Amor não atrapalha em nada. Amor realiza. O problema é que talvez, devido essa sociedade toda distorcida, não saibamos Amar...


Mas é fato! Nós precisamos reaprender. E só tem um jeito de fazer isso, seguindo a lição que bell hooks nos deixou... vivendo de Amor. E educando com e para o Amor. 


Dito tudo isso! É muito mais fácil para o Homem se abrir para o Amor, até nisso nós estamos num lugar de privilégio em relação as Mulheres. Porque? Numa sociedade racista e patriarcal, temos muito menos em jogo, muito menos a proteger, muito menos a arriscar. Ainda mais, caso se trate de um homenzinho/menino para o qual é naturalizado o abandono afetivo e paterno. 

Enquanto a Mulher (mais ainda a Negra), em contrapartida, além dos sentimentos, está pondo tudo em risco. Desde projetos pessoais, estudos, carreira, diversões, liberdade, ambições... Porque a ela sozinha foi, injustamente, relegado o papel de cuidar, proteger as crias, a família, o sustento na saúde ou doença. E isso é cruel! Porque meninos simplesmente fogem de forma covarde, patética, indiferente, ao primeiro sinal de cansaço (salvo engano as raras exceções). 


Agradecimentos,

A bell hooks pelo legado e a educanda por provocar, oportunizar alguma  organização de reflexões que venho tendo há algum tempo a partir de minhas vivências afetivas...

Obrigado.




Observações:
O nome da educanda foi ocultado por motivos óbvios do seu direito a privacidade. 
Na transcrição foram feitas correções ortográficas e revisão textual. O texto tem algum acréscimo de ideias das quais, algumas construídas durante o diálogo em troca com a educanda (mas o grosso do texto, que virou uma carta rs, foi escrito no instagram mesmo).


Referência Bibliográfica (sim, apesar de ter escrito de improviso de forma informal no Instagram tem referências bibliográficas e de saberes, e eu consigo identificar algumas)


 Vivendo de Amor de bell hooks
https://www.geledes.org.br/vivendo-de-amor/ (acessado novamente em 24/01)


O Espírito da Intimidade - Ensinamentos Ancestrais Africanos Sobre Maneiras de Se Relacionar de Sobonfu Somé (inclusive, ainda estou lendo)


Ideias para adiar o fim do mundo Ailton Krenak
  

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Se a Vida se Resume só ao trabalho. Quando teremos tempo para Viver?

 













A máquina produtiva nos condiciona a acreditar que trabalho é sinônimo de vida. NÃO! NÃO É!!!

O trabalho é só um micro pedaço da vida, tão pequeno, tão pequeno, tão pequeno, tão pequeno... que poderia, talvez deveria, ser insignificante... 

Só que criamos (ou criaram???) uma sociedade da produção onde colocaram grande parte da população como explorados e o SER e VIVER como insignificantes. 

O SER é inútil??? Como filosofou Ailton Krenak a VIDA precisa ser útil? Só o trabalho faz a VIDA ter sentido? A vida precisa ter sentido?

O trabalho dignifica o homem? Logo, se estou desempregado ou não gosto do ramo em que trabalho sou vagabundo e devo me envergonhar e me sentir mal com isso? 
Se estamos descontentes com o trabalho, desempregados, se o meio de sustento está ameaçado, logo você se sente mal, estressado, diminuído, desesperado... 

Nos tiraram os meios de existência e os condicionaram ao trabalho que foi condicionado ao dinheiro, condicionado ao TER que deve substituir o SER tornando o que deveria ser uma pequena parte natural e prazerosa da vida em um meio de anulação, exploração e tortura da VIDA e do outro... 

...Assim se condiciona e se reduz a vida a sinônimo de trabalho???

NÃO! A VIDA NÃO SE RESUME A TRABALHO, NÃO SE RESUME A DINHEIRO! MAS, O TEMPO E OS PRAZERES DA VIDA AGORA ESTÃO A VENDA? Como tenho isso sem dinheiro??? Pra ter dinheiro, trabalho, mas fico sem tempo. Como ter tempo pra viver???

A Vida deveria simplesmente ser vivida. Mas, ao invés de ser vivida, a vida é trabalhada ??? 

Quant@s passaram, passam, passarão a vida trabalhando (sonhando em viver) e sentem que não viveram, vivem nem viverão??? 

Ao que parece, sequestraram a VIDA e trabalhamos: __ corre, corre, corre, corre!!!  pra pagar o resgate. Trabalhamos sem parar, sempre com pressa sem tempo pra viver pensando obsessivamente no preço disso. Desconhecemos o valor da VIDA? Qual o valor de Ser Mais? De viver mais? Das relações? Das afetividades??? Da diversidade? Da pausa? Da calma? Da paciência? Da Empatia? Do Amor? Qual o valor da Ancestralidade? 

Qual o valor de Deus?

Fecho com a sabedoria ancestral dos Krenak que o Ailton nos ensina: a VIDA NÃO É ÚTIL é pra SER VIVIDA... 

... e não fabricada numa linha de produção...

 




quarta-feira, 2 de junho de 2021

A VIDA NÃO É ÚTIL (Ailton Krenak), NÃO É CONCORRÊNCIA, NÃO É CORRIDA!!!


Por Anderson Benelli


Por mais que tentemos negar, é fato que, a sociedade nos poda, nos mina, nos minimiza e, ao mesmo tempo, introjeta concorrência em nós. Ou seja, a sociedade nos inferioriza de N maneiras sabotando nossa autoestima e nos vende a ideia de que, para nos sentirmos bem, temos que ser melhor, TER mais... Mas, não melhor que nós mesmos (no sentido de Ser mais como desenvolveu Paulo Freire), mas melhor que @s outr@s.
Essa sociedade doente nos condiciona que a vida é uma concorrência e seus adversários são @s outr@s, nos introjetando rivalidade, que no seu extremo é o Ódio.
O Ódio é o combustível para a corrida do "progresso" que é "vencer na vida" (seja lá o que for que signifique isso). O Ódio pel@ outr@ que de uma visão macro mais concreta se apresenta como @ estranh@, @ estrangeir@, @ não-similar, @ não binário, @ diferente...

Porém, na visão micro @ outr@ é tod@ aquele que não sou EU. E se @ outr@ é tod@ aquele que não sou EU (esse é o super ego de que fala Froid?), mesmo as pessoas mais próximas do meu núcleo de convivência, amig@s, prim@s, irmãos são o OUTR@, são os adversári@s, são @s concorrentes, são os inimigos nessa "corrida" da vida... Por isso, estamos condicionados a passar o tempo todo comparando nosso desempenho (com o d@ outr@) em tudo que fazemos e isso gera inúmeros conflitos. Nós estamos, continuamente, nos comparando e sabotando num trabalho de CONCORRÊNCIA mesmo quando pensamos estar, ou deveríamos estar, em um trabalho COLABORATIVO. E, para nos sentirmos bem, menos minimizados (pois estamos com a autoestima sempre a prova e foi o que essa sociedade nos condicionou) atacamos e minimizamos @ @utro, e esse outr@ como vimos, pode ser sua própria família... Como? reproduzimos o que nos foi ensinado de forma bancária por essa sociedade desfigurada, desvalidamos o outro, seu trabalho, seu intelecto, sua origem, sua cor, seu sexo, seu gênero, sua roupa, seu carro, sua conta bancária, etc (como nos foi condicionado que ter é ser, atacamos as coisas também). Vide nossa dita classe média como exemplo macro: "se a empregada não sentar aomeu lado no avião, não tiver um carro como o meu, eu me sinto bem".

E, porque e pra que a sociedade (e suas elites) com seus valores devastos distorcidos mina nossa autoestima?

Sujeit@s com autoestimas destruídas não resistem, seguem o rítmo imposto como formigas em fila, seguem ordens sem questionar, não constrói oposição, não mudam nem transformam nada e são, ainda mais facilmente dominados, porque estão divididos e sobrecarregados com o trabalho de produção e o trabalho de odiarem uns aos outros...

Precisamos acordar! Como bem nos ensina Ailton Krenak com a sabedoria de seus (nossos) ancestrais, a vida não é útil, a vida não é concorrência, a vida não é uma linha de produção, a vida é, simplesmente, para ser vivida, experienciada e aproveitada com intensidade em sua plenitude. Mas isso, nos conhecer, Ser e viver em plenitude nos é negado, nos é roubado à tanto tempo que não sabemos mais como fazer. Por isso, se faz necessário resgatar nossa Ancestralidade e/ou Ancestralidade outras, aquelas que sabem como Amar, Aprecisar e Respeitar a Vida, a Natureza, aquelas Ancestralidades que sabem Viver!

P.S Um texto solto com reflexões que ninguém vai ler...

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Você Acredita em Neutralidade?



Você acredita em Neutralidade?

É possível se fazer neutro numa existência e mundo em movimento?

Um professor entra na sala, pega um livro e passa para os alunos sem nenhuma intervenção. Isso é ser neutro?
Que livro é esse? E quem escreve o livro? É  neutro?
As pessoas de governos que aprovaram os livros didáticos são neutras?
Quem escreve a história? É neutro?

Um governo que persegue e manda embora quem tem pensamento diversificado e divergente da linha ideológica dele é neutro?

A escola que está sob o projeto de governo como instituição de um estado racista genocida, machista, homofóbico, xenofóbico é neutra?

É possível qualquer sujeito no mundo ser neutro?

Ou todo sujeito carrega seus valores onde vai e no que faz?

Neutralidade existe?
Ser neutro perante injustiças não é colaborar com injustiças? 
A quem interessa essa tal 'neutralidade'?
A neutralidade não colabora com a manutenção do que está posto?
Neutralidade constrói mudança?

Temos que ser neutros, assim como os neoliberais conservadores preconceituosos que estão no governo desmontando educação, cultura, saúde, previdência e serviços sociais?
Neutros como um governo que persegue e expulsa médicos estrangeiros que vieram para atender populações carentes em regiões do país onde antes nunca existiram médicos?

Neutros como um (des)governo que desmonta estruturas já precarizadas de um estado Racista Genocida que promoviam 'combate' a violência contra mulheres, racismo, preconceito e violência de gênero?
Neutros como um bando de agentes políticos que perseguem a educação e seus profissionais como inimigos mais perigosos e procurados? Neutros como um governo que tira verba de universidades, campus de humanas como essas fossem o grande mal do país?

E assim pregam: ___ educadores devem ficar sentados em seus sofás da ' neutralidade' !!! Enquanto um desgoverno de despreparados neofascistas criminalizam educadores e seu ramo de atuação?

Existe neutralidade em algum aspecto da vida? Existe neutralidade na política e nessa estrutura social que defende com unhas e dentes privilégios de pouquíssimos?

A justiça é neutra? É cega? Ela usa mesmo venda? Ou ela enxerga muito bem quem é quem antes de julgar?

Educar ou deseducar ( construir, desconstruir, desprogramar) é um ato neutro? Ou um ato político?

Neutralidade não é mito?!?

Você acredita em neutralidade?

...





EU NÃO!
Anderson Benelli da Silva









terça-feira, 9 de outubro de 2018

A Vida é Política do dia-a-dia

Manxs política não se resume a partido e eleição.
A vida é política do dia-a-dia, é como você observa, se vê, se coloca, se reconhece e reconhece xs outrxs e o mundo, ou não.
Não é política partidária que nos divide é a postura perante o mundo, a vida e xs outrxs.
Estamos divididos porque tem parte de nós que se sente confortável em andar com quem prega por conservação de preconceitos e universalização das diversidades. Porém, uma considerável porcentagem dessa parte, não sabe que isso quase sempre significa criminalização, extermínio e genocídio de nós mesmos. Em contrapartida, tem outra parte, que luta pra desconstruir preconceitos, até em si mesmo, e pela valorização das diferenças na vida. A política partidária só usa isso como dualidade publicitária pra convencer uma maioria, nos usar, nos dividir ainda mais do que já estamos.
Usam o medo pra nos confundir e ganhar na lábia quem não tá ligado a sua ancestralidade deixando ainda mais longe de se (re)ligar... Quem não ta ligado e valoriza as raízes entende quem é? Como se colocar no mundo?
Quem só pensa e vê política em ano de eleição, mas não consegue enxergar, por em prática isso no dia a dia só fica inerte sendo afetadx, sendo inventado por outrém.
Acho que é ingenuidade acreditar que tenha salvador que vai trazer a onda da mudança de qualquer um dos lados da política partidária (que não são só dois).
A mudança só virá de nós povo quando nos reconhecermos como tal. Quando conseguirmos nos colocar como povo que exalta suas diferenças como riqueza e não como crime. Quando conseguirmos curar a cegueira que nos impede de nos ver e reconhecer em nossas raízes ancestrais como indivíduos coletivos, e quando formos capazes de nos reconhecermos nxs outrxs.
Mas ainda falta empatia!
Quando cada um veste a camisa do seu time e fica cada qual em sua bolha, não existe diálogo e sem diálogo... fica na muda nada muda. E isso só interessa a quem ganha com a conservação de injustiças e privilégios. Quem ganha com isso? Quem ganha com essa polarização? Quem ganha com esse racha?
Nós povo ganhamos?
Mas garanto, que provavelmente temos as mesmas insatisfações referente a política partidária e essa farsa democrática.
Quais as suas insatisfações?
Como você o observa o mundo? Como você se vê? A diferença está em como nos colocamos e percebemos o mundo?

Por Anderson Benelli

segunda-feira, 21 de março de 2016

Esse estado de 'direito' serve a quem?


Não se enganem, o golpe da mídia não está só relacionada a conjuntura política atual. Os principais golpes da mídia passam desapercebidos e acontecem no dia-a-dia. Quando essa mídia usa suas notícias para manipular a opinião pública criminalizando a juventude negra, indígena e periférica a favor da diminuição da maioridade penal reforçando o racismo e sua violência. Quando sabemos bem, quem pagou, paga e vai pagar essa conta. Essa mídia dá golpe, quando criminaliza movimentos sociais, o direito de manifestação e greve de trabalhadores de diversas categorias. A mídia corporativa dá golpe, quando apoia a violência policial contra trabalhadores, professores e estudantes. Dá Golpe, quando se silencia diante de inúmeras chacinas nas diversas periferias do Brasil tomando como normalidade essas execuções genocidas, e ainda, criminalizando as vítimas.

 Óbvio que devemos nos colocar contra as arbitrariedades juristas/midiáticas seletivas e essa ondinha fascista branca, verde e amarela.


 Mas não temos um grande dilema em mãos? O estado de direito garante direitos a quem?  
Nunca garantiu plenos direitos a indígenas, negros e pobres. Pelo contrário, o estado de 'direito' continua sendo instrumento de extermínio desses povos, como foram regimes anteriores.

 Eis o dilema: nos manifestamos contra golpes, arbitrariedades, ditaduras, fascistas... Mas porque, e como, defender um estado de ´direito' feito de instrumento de extermínio de povos indígenas, negros e pobre?
 É esse estado que chacina e vai continuar chacinando  jovens negros nos morros, indígenas por suas terras e pobre nas quebradas. É esse estado que vai continuar expondo à violência mulheres no parto em hospitais. Os mesmos hospitais que negam socorro e atendimento apropriado aos nossos velhos e aos jovens baleados  e rotulados como bandidos pelo racismo. Um estado que tem o judiciário que condena arbitrariamente todos os dias nossos jovens por portar um pinho sol. Um estado que tem a polícia (e exército) que executam e arrastam uma mulher, mãe de família, pela via pública impunemente, que sequestra, tortura, mata e oculta o cadáver de um homem, pai de família. O mesmo estado que executa numa noite 13 jovens na Bahia, 30 pessoas em Osasco e dá medalha aos vermes que fizeram isso.
 Me diz como e porque defender isso? Estado de direito? Direito de quem? E pra quem?

Precisamos URGENTEMENTE de outro modelo de sociedade. Uma sociedade onde preconceitos não cabem, sem justiça com a balança pendendo para um lado em detrimento de outros, sem estado como instrumento de extermínio de povos historicamente injustiçados.

A dicotomia e complexidades estão postas a mesa, sirva-se.
Continuemos a marcha contra um golpe. Mas e os outros golpes diários? Estamos lutando exatamente contra que e a favor de que (ou quem)?
Esse estado de 'direito' serve a quem?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Aqui, nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo. Você Sabia?



Por Anderson Benelli


 Após ler o artigo de apresentação do Circuito cultural da cidade, publicado no dia 18/02/2016, me veio a reflexão que transcrevo abaixo: (Link da do artigo sobre a apresentação http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/9568/#ad-image-3)



Eu não pretendo falar por nenhum grupo ou coletivo, apesar de acreditar que muitos possam se identificar com o que vou manifestar, seria muita petulância e arrogância me colocar como a voz que representa uma coletividade tão diversa. Então, não me coloco aqui como representante de uma coletividade, mas como parte, uma pequena parte, um grão dessa coletividade. 


Nós da periferia somos muito ricos em cultura. Apesar do descaso constante do estado.

 Aqui nas periferias (se vocês ainda não sabem, mas sabem e se valem do uso disso), nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo e queremos ver também os nossos e as nossas artistas nos palcos reconhecidos e bem remunerados.

 É ótimo receber todas as atrações culturais possíveis. Porém, não queremos só receber de forma bancária atrações culturais escolhidas por outrem - O que leva a questão: quem faz e como se faz a curadoria desses artistas? Nós queremos ver nossos artistas, atores/produtores culturais nos palcos sendo contratados, remunerados, reconhecidos e tratados com o respeito merecido. Pois a periferia tem uma produção cultural diversificada, valorosa e muito rica construída na resistência, fazendo uma cena cultural efervescente onde as instituições estatais falharam e falham repetidamente em fazer.

 Então, seria muito bom um pouco de reconhecimento profissional aos nossos atores culturais.

 Repetindo, é ótimo receber nomes consagrados da cultura brasileira. Mas não basta só jogar as atrações lá, tem que divulgar e difundir para que a população saiba que haverá tal show em determinado lugar e possa realmente acessar e usufruir disso. Já que o dinheiro dos seus impostos está pagando o cachê dos artistas e tudo mais. Não adianta pagar cachês, merecidamente ou não, absurdos e o artista se apresentar só para os funcionários do espaço porque a população daquela comunidade nem ficou sabendo que teria algo, como repetidamente acontece.

 Além disso, que tal quando um desses artistas já reconhecidos e com carreira consolidada for contratado pra fazer um show na periferia X da cidade de São Paulo,  em contrapartida contratarem e fomentarem artistas locais como abertura?


 Afinal, são esses artistas locais que mantém uma cena cultural rica durante todo o resto do ano, e quase sempre não são remunerados por isso. Ou esses mesmos artistas servem para subir no palco sendo explorados todo o ano, mas não servem para subir no mesmo palco sendo remunerado? Enquanto, de vez em nunca, aparece um artista consagrado pra fazer show e muito bem remunerado.

 Não era pra ser papel do estado equilibrar a balança? Intervir para garantir igualdade de  oportunidades? Eu sei é esperar muito que o estado cumpra, o que deveria ser, o seu papel. É esperar muito de uma instituição burguesa e seus políticos com campanhas patrocinadas por empresas de iniciativa privada com acordos e cargos de confiança como moeda de troca em contrapartida.
 E não venha me dizer que os pouquíssimos editais preenchem essa lacuna, porque não preenchem. Os míseros editais não garantem um real reconhecimento e remuneração pelos trabalhos culturais prestados por nossos artistas e produtores culturais, no máximo uma pequena, muito pequena mesmo, ajuda de custo. Muito menos processos de licitações feitos pela internet. 


 Muitos dos nossos artistas e produtores locais e seus trabalhos são tão enriquecedores, culturalmente falando, quanto qualquer outro nome aclamado da cultura do nosso país. São tão profissionais quanto. Porém, as instituições estatais, onde elas falham ou não querem atender, se valem das ações culturais dos agentes culturais locais para preencher essa lacuna - pois o acesso e estimulo a cultura é um direito humano que é dever do estado - mas não reconhecem e quase nunca os tratam como profissionais trabalhadores da cultura os remunerando por isso. A união, estados e municípios fazem dessa prática mais um tipo de exploração se beneficiando com tais ações por essas fazerem o papel que deveria ser do estado.

 É revoltante ver as instituições estatais alimentando a gulosa, ambiciosa e bilionária indústria cultural pragmática. Enquanto os/as artistas e produtores culturais das periferias, que não contam com uma gulosa e ambiciosa indústria cultural por trás, mas mantêm culturalmente esses espaços institucionais o ano inteiro, ano após ano com trabalhos de excelência (estando ou não dentro de seus prédios). Mas continuam menosprezados e explorados por essas instituições e seus sistemas burocráticos criados para os deixarem de fora na hora de repartir o bolo.

 Por isso, seria uma felicidade eufórica, se nós moradores da periferia pudéssemos ver nos palcos de nossas cidades, nas periferias e no centro, tratados com respeito, remunerados e reconhecidos como profissionais competentes da cultura que são, os nossos e as nossas artistas de todos e mais variados gêneros e segmentos possíveis. Ao invés, de só recebermos de forma bancária esses artistas de renome reconhecidos, por merecimento ou não, nacionalmente e até internacionalmente, como uma forma de engorda financeira de empresas da iniciativa privada e contrapartida de apoio político partidário.

 Para finalizar esse desabafo manifesto repito:
Aqui nas periferias (se vocês ainda não sabem, mas sabem e se valem do uso disso), nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo. E queremos ver também, por obséquio, os nossos e as nossas artistas nos palcos sendo fomentados, reconhecidos e bem remunerados.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Escola e presídios cada vez mais parecidos.



Democracia onde? Isso se chama aristocracia, decisões concentradas nas mãos de poucos e empurradas guela abaixo de forma autoritária e arbitrária. Não existe democracia quando o estado é propriedade privada de alguns que concentram a maior parte da renda em suas ações e contas no exterior e compram mandatos políticos através de patrocínio de campanhas devassas. "Eu banco seu mandato e você faz e defende tudo que me interessa meu pau mandado". 


E Quando o oprimido se rebela o opressor se revela...
... em suas ações repressoras.

E sabemos bem que, apesar de ser uma escola pública se a Fernão Dias, (...dar o nome de bandeirantes à escolas já mostra a real finalidade dessas...) fosse nos extremos periféricos da cidade, a ação da polícia seria ainda mais truculenta, violenta, repressora e irracional. Porque, nas periferias já estão acostumados a fazer acontecer conforme bem entender, lavarem suas mãos em sangue, saírem impunes e ainda serem condecorados com medalhas. Afinal, quando a violência policial bandeirante é na periferia aqui tudo pode, ninguém nada vê, ninguém nada sabe.

Mas, ao menos, algo positivo. A desobediência e enfrentamento de alunos, alunas e alguns professores/as mostra que, mesmo tendo um projeto de escola como instrumento de controle social de: sente, cale a boca e obedeça, apesar de ter grande impacto e êxito, ainda não consegue atingir e anestesiar a juventude e o povo em sua totalidade.
Viva a rebeldia juvenil! E que ela dure até morrermos de velhice.

Não precisamos reorganizar as escolas, precisamos reinventá-las.

Pelo fim da polícia como instrumento de extermínio e encarceramento da juventude do povo negro, indígena, pobre e periférico e contenção da vontade do popular.

#Pelofimdapolícia
#Pelofimdoestadocomoinstrumentodecontrole
#Pelofimdaescolacomoinstrumentodecontrole
#Contraareorganização

#PorumaEducaçãolibertária

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Fim de feriado prolongado. Bem vindo ao lar!




É FODA!
É foda. Você chega em casa depois de alguns dias de desligamento e relaxamento em um rolê louco com os seus e dá de cara com o stress concentrado da megalópole e da guerra civil/étnica instaurada pelo estado, ou melhor dizendo, extermínio.

Num piscar a megalópole te rouba a brisa. Desde a brisa da menina, que saindo do mar jogando o cabelo afro, te leva a imaginar a Rainha Oxum (sei que Oxum é a rainha das águas doces, mas foi quem me deu a impressão de ver naquele momento) à energia ancestral emanando na roda de samba com a juventude cantando junto e em reverência aos mais velhos da comunidade. É colocar o pé na megalópole que ela te rouba a brisa de um role louco com encontros, pessoas, momentos e trocas enriquecedores.

Você chega do rolê e vai caminhando na madrugada pelas quebradas a caminho de casa. E no caminho pensa... sempre curti andar de madrugada pela cidade e de repente começa a perceber a energia tensa emanando das ruas e paredes da selva de pedra, ruas e paredes banhadas do suor e sangue d@s Noss@s. E sem nenhuma intenção, automaticamente, todos os instintos de sobrevivência adquiridos durante a trajetória de vida são ativados.

Logo após isso, você vê uma mano andando na mesma direção a sua frente com uma garrafa na mão, ele olha para trás e te ganha, pára, olha para um lado, para outro te fita nos olhos e continua olhando para os lados como se estivesse garantindo que não havia mais ninguém ali. Ele fica parado até você chegar nele te fitando nos olhos. É inevitável a malícia adquirida nas ruas da quebra te faz perceber uma certa maldade no gesto do mano, e então você se prepara para o embate reerguendo e reforçando todas suas barreiras e instintos. A caminhada continua no mesmo ritmo o mano continua parado te fitando, mas agora você já se armou, mudou o olhar, a postura, caminha com passadas firmes e cabeça erguida fita o olhos sem desvios, sem mostrar receio ou dúvida, agora já demostra tanta ou mais disposição do que o mano e com olhar e expressão corporal diz sem dizer, 'o que você quiser eu quero em dobro". Depois disso, já perto do mano com a voz firme e forte antes que ele diga você diz: SALVE! QUE QUE PEGA? Ta aí vacilando sozinho na rua mano? E o mano embriagado fica sem ação. Você passa por ele, ele fica parado por um tempo te fitando com olhos, você segue seu caminho e agora, ele o dele.


O dia amanhece... aí você fica sabendo que no feriado de nossa senhora, difundido pela publicidade da industria do comércio como dia das crianças, uma mulher e um adolescente (sua criança) foram espancados, torturados em plena luz do dia no meio da rua por policiais, provavelmente uma mãe que foi defender o filho de mais uma de tantas ações arbitrárias da polícia aqui e em todas quebradas do Brasil.
No dia das crianças as Nossas receberam de presente do estado spray de pimenta.


E a coisa não para por aí, você fica sabendo, que a polícia jogou o carro em cima de dois jovens de moto, espremendo os dois contra outro carro para DEPOIS, DEPOIS e só DEPOIS, ser averiguado que ambos não deviam nada e não estavam armados.
Além disso, te contam que uma mulher bêbada atropelou e matou uma criança de três anos e a população revoltada queria fazer justiça ali mesmo. Mas a motorista bêbada que assassinou a criança sumiu.

Ah, e também, por último mas não menos importante, descobre que sua avó esta internada no hospital com problemas respiratórios, provavelmente uma recorrência de um problema de saúde já 'tratado' pelo serviço de saúde do estado.
Tudo isso no primeiro dia que você retorna a quebrada, ao lar.
E isso, só mostra que esses rolês para desligamento e relaxamento são cada vez mais necessários. Porém a realidade faz questão de te mostrar e falar: "ACORDA JÃO!!! NÃO SONHA MUITO NÃO, pé no chão, pé na terra".

Mesmo assim, o sonho segue! A luta segue!
SP/capital - "Zona sul é stress concentrado" e o mais triste é saber que todas as quebras do Brasil a situação não é diferente.

Fim de feriado prolongado. Bem vindo ao lar!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

QUEM PRECISA DE QUEM?!

Compartilhe no seu WhatsApp =D
Hoje ao navegar por uma rede social me deparei com a seguinte manchete:

Culturas indígena, afro e periférica afirmam sua existência na Bienal . kkkkkkkkkkkk. Não é pra rir?

Parabéns a tod@s que estarão por lá, mas... NÃO!



NÃO! Essas manifestações culturais não precisam do reconhecimento do circuito burguês da "arte", nem de suas instituições e nem de seu mercado para se afirmarem como tal. 

Não é uma piada essa manchete?

Como se essas manifestações culturais (algumas milenares) precisassem de, autorização, reconhecimento ou carimbo dessa instituição elitista para afirmarem sua existência e importância. 
ELAS (R)EXISTEM e ponto. Independente de Bienal existir ou não. Na verdade é o contrário, a Bienal está tentando afirmar e justificar a continuidade da sua existência e está recorrendo a essas (nossas) manifestações, há alguns anos, para isso. 


Enfim, essas manifestações não precisam do reconhecimentos deles, mas eles precisam delas para se afirmarem e reforçarem seu status quo. 



    As culturas indígenas, afro-brasileiras e periféricas SÃO, (R)EXISTEM e se (RE)CONHECEM VALOROSAS E IMPORTANTES! Assim como os povos e indivíduos que as produzem. 



QUEM É, É.